29/05/2011

A MEMÓRIA PRECISA DOS MUSEUS? (2)

Subscrevo o alerta google para, entre outros temas, “museu”, “educação”, e “museu-educação”. (Abre parêntesis: Você recorre ao alerta google para os temas de seu interesse? Recomendo.)

Outro dia, entre os tópicos envolvidos pelo tema “museu”, lá estava uma notícia de um site de uma nação africana, sobre o reconhecimento da condição de museu para oito de seus edifícios dedicados à memória do país, que “atendiam aos critérios internacionais” e, portanto, faziam jus ao título. Outras duas casas não atendiam (ainda) aos tais critérios, mas esforços estavam sendo feitos para que alcançassem em breve a tão esperada condição.

Voltei à questão da minha postagem anterior: a memória precisa dos museus? A questão foi colocada de modo bastante abrangente. Não é lá uma pergunta das melhores. Alguém poderia questionar: de que memória você está falando? A que tipo de relação necessária você está se referindo? E, finalmente, sobre que museu estamos falando? 

A notícia acima mencionada, e outras que recebi, e às quais me refiro abaixo, trazem contribuições ao “miolo” de uma possível resposta, pois envolvem valores e emoções que podem orientar nossas perspectivas.
Não há dúvida de que, no contexto do país africano da notícia referida acima, a existência de oito museus representa valores sociais da maior importância para eles: havia um claro tom de orgulho por terem oito de suas instituições alcançado o sonhado “status” internacional. 

Aqui mesmo em nosso país, notícias semelhantes me chamaram a atenção:
1 – O Instituto de Pesquisa Afro Cultural Odé Gbomi, no município de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, foi “elevado” à categoria de museu, pelo Instituto Brasileiro de Museus - IBRAM. O acervo do Odé Gbomi é formado por 250 peças iorubas – o maior acervo desse tipo no estado, segundo o presidente Antônio Montenegro. “A Baixada possui o maior número de casas de matrizes africanas. Este museu é uma prova de gratidão a esta região e a Nova Iguaçu” – foram as palavras emocionadas do presidente do novo museu, Antônio Montenegro. Na ocasião em que foi elevado à categoria de museu, o Odé Gbomi recebeu também o “DNAfrica”, resultado de uma pesquisa contendo os nomes dos primeiros africanos que chegaram à Freguesia de Santo Antônio de Jacutinga, região que originou Nova Iguaçu. A pesquisa foi realizada pelo professor e historiador Ney Alberto Gonçalves de Barros. [Interessados? Visitem o site www.institutodepesquisaafrodegbomi.com.br.]

3 – A Universidade de Taubaté (UNITAU), cidade localizada na região do Vale do Paraíba, inaugurou o primeiro Museu Didático do Corpo Humano, destinado à divulgação da ciência da anatomia do corpo humano. O museu objetiva desenvolver um programa para atender às escolas de ensino fundamental, médio e superior da região. [Interessados? Visitem o site http://www.planetauniversitario.com/index.php?option=com_content&view=article&id=22338:unitau-inaugura-na-regiao-o-primeiro-museu-didatico-do-corpo-humano&catid=27:notas-do-campus&Itemid=73.]

4 – Em Brasília, a professora Eva Waisros, pesquisadora da história da educação no DF, apresentou, através da Universidade de Brasília – UnB, o projeto do Museu da Educação de Brasília. Para abrigar o museu, a ideia é reconstruir a Escola Júlia Kubitschek, a primeira da nova capital, de acordo com o projeto original de Oscar Niemeyer. O terreno pretendido para abrigar o museu, na Candangolândia, é usado como lixão e campo de futebol.  
A notícia que li terminava assim: “De acordo com Zoroastro Quaresma, chefe de gabinete da Administração da Candangolândia, a escola Júlia Kubitschek faz parte da memória da cidade. Ele viu a escola original ser erguida e demolida. ‘Ela foi feita em 21 dias, com 80% da estrutura em madeira e 20% em alvenaria. Funcionou para 300 alunos até 1989, quando foi demolida porque estava em ruínas. Chorei muito nesse dia’, conta. ‘Essa escola foi a nossa paixão, linda. É um desejo da comunidade reconstruí-la. Temos um abaixo assinado com mais de três mil assinatura para isso’, afirmou”. (Interessados? Fonte: UnB Agência - http://novoportal.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=5122).

Pergunto: A quem esses museus estão (estarão) servindo, e a que memórias? Qual a importância que você atribui a essas ações? Os edifícios são necessários? Verbas para a manutenção desses museus são (ou deveriam ser) prioridades? 

Penso que a contextualização (particularização, como nas notícias acima) ajuda a aproximar o raciocínio de valores mais pessoais, e por isso mesmo mais significativos para cada um de nós. A partir daí podemos escolher quais aspectos e sentidos podem melhor orientar nossas decisões e escolhas sobre o que julgamos ser (ou não) prioritário.

A pergunta continua: a memória precisa dos museus?   

Nenhum comentário:

Postar um comentário