17/05/2011

A MEMÓRIA PRECISA DOS MUSEUS?

Segundo o Instituto Brasileiro de Museus - Ibram (autarquia do Ministério da Cultura responsável pelos museus federais), apenas 20% dos municípios brasileiros contam hoje com museus. Um dos objetivos do plano de diretrizes e metas do setor para os próximos dez anos [leia a íntegra do Plano Nacional Setorial de Museus], elaborado em 2010 por ocasião do 4ª Fórum Nacional de Museus, é a criação de cerca de 250 instituições do gênero.

A verba destinada aos museus no Orçamento do Governo Federal para 2011, entretanto, foi contingenciada. O contingenciamento é o resultado da necessidade de o Governo Federal diminuir gastos, conforme a opinião de economistas e analistas político-financeiros. A não tão facilmente obvia tomada de decisão do Governo sobre o que contingenciar – ou não – envolve crenças, valores e o consequente estabelecimento de prioridades: onde vamos deixar de gastar? Onde não podemos deixar de gastar?

Aceitando-se que a opção primeira do Governo seja de fato a eliminação da pobreza, e que os gastos prioritários serão aqueles que contemplem: (1) o atendimento às necessidades básicas da população – digamos educação; saúde e alimentação; moradia em condições de higiene e segurança; trabalho e locomoção e, por último, mas não menos importante, lazer; e (2) a criação de condições que promovam desenvolvimento econômico socialmente justo e ambientalmente sustentável;

Aceitando-se essas premissas, pergunto: a verba para a criação e sustentação de 250 novos museus deve ou não ser contingenciada? Qual é (ou seria) o ponto de vista e a perspectiva das comunidades que vão receber os museus? Há outras ações possíveis, a partir dos museus já existentes, que contemplem uma extensão do atendimento às populações que não dispõem de museus? É possível criar ações museológicas sem museus (quero dizer, a “casa-museu”), com menor ou nenhum gasto de dinheiro público, e ainda assim compor uma política de valorização cultural, patrimonial e de cidadania?

Qual a sua opinião sobre o assunto? Que perguntas e/ou reflexões você faz a respeito? Comente. Participe.

2 comentários:

  1. Olá Ione.

    Adorei sua publicação e ainda mais o título dela.

    E devo confessar que me fez pensar muito, numa questão que você deixou aberta "Qual é (ou seria) o ponto de vista e a perspectiva das comunidades que vão receber os museus?"..E confesso que durante 2 dias, essa pergunta me veio martelando.E cheguei a uma conclusão que antes de qualquer ação a ser implantanda ou mesmo uma instituição (museu), tem que haver uma pesquisa dessa comunidade, que irá receber essas implantações.Ao meu ver, essas comunidades que recebem essas ações estão cada vez mais sendo excluidas, invés de incluidas nesses projetos, pois não há uma interação antes com essas comunidades, não há uma pesquisa para saber o que realmente é o que elas querem e precissam e a memória existente entre elas.Simplesmente implantam ações sem nenhuma base de avaliação e ainda esperam uma aceitação e uma interatividade por parte dessas comunidades.

    Portanto não é a comunidade que tem que interagir com o projeto, e sim o projeto que tem que interagir com a comunidade.E creio que não é isso que o IBRAM tem como objetivo, eles simplesmente implantam e divulgam como se suas responsabilidades ja fossem cumpridas, na questão de que "levamos a cultura para essas comunidades, vejam que museus estruturados e bem implantados que construimos", puramente e friamente uma questão de markenting.



    P.P.F. graduanda em Museologia UFOP.

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  2. Desconheço a postura mesma do IBRAM, Paula. Mas concordo com a essência do que vc pensou. É muito comum essa postura de quem acredita “levar cultura a quem não tem” e, nisso, muita gente impõe seus valores e crenças sociais, quase sempre com boas intenções, mas...

    O que não significa que o movimento de informar(se) – e de criar oportunidades de acesso à informação, como é o caso na criação de museus – seja inoperante ou dispensável. Paulo Freire (que na minha opinião pensava com inteligência e sensibilidade), defendia que o trajeto pedagógico, para levar à consciência crítica, vai e volta da cultura popular à cultura erudita e letrada, sendo um trajeto dialógico de articulação de conhecimentos.

    Esse diálogo é necessário porque, ao contrário do que muitos pensam, consciência crítica não é o exercício de julgar a lógica e o raciocínio alheios, mas a habilidade de examinar e avaliar o próprio pensamento, suas possibilidades e abrangência. O que, convenhamos, é impossível, se ficarmos nos limites mesmos de nossas ideias, crenças e valores, como cachorro mordendo o próprio rabo.

    “É o 'nós pensamos' que me faz possível pensar”, já dizia Paulo Freire. De modo que "como" as políticas sociais e culturais são implantadas é da maior relevância.

    Mas como seria um museu que uma dada comunidade poderia chamar de seu? Essa também é uma pergunta em aberto.

    Grande abraço pr'ocê, Paula, e obrigada por alimentar o nosso diálogo.

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