Tenho sérias dúvidas sobre essa dicotomia, a propósito da qual me faço muitas perguntas. Por exemplo: Einstein logicava ou imaginava? O que estava ele fazendo quando imaginou o que aconteceria se alguém pudesse viajar montado num raio de luz?
E nós, quando imaginamos, não raciocinamos? Quando fantasiamos, não refletimos? Quando concebemos, não ponderamos? E quando raciocinamos, refletimos, concebemos, não estamos imaginando?
Essa separação entre imaginar e logicar (usar a razão fazendo uso da lógica) também já teve o seu momento no meu pensar. Hoje mudei de opinião.
Mudei de opinião quando, despertado meu interesse pela neurociência, fui descobrindo a enorme imaginação dos cientistas – é fascinante a lógica imaginativa com que formulam hipóteses e buscam explicações. Quase ao mesmo tempo, despertada minha imaginação para coisas como planetas, astros e universos, fui descobrindo o fantástico imaginário da construção de hipóteses lógico-matemáticas que intentam explicar o universo e o mundo. Todos reconhecemos sem dificuldade a imaginação no artista; pois é igualmente apaixonante descobrir os delírios imaginativos dos cientistas.
O que tem isso a ver com museus? Bem, a Maria Isabel, do Repensando Museus, usou a citação do Niemeyer para declarar que museus devem instigar a imaginação, sobretudo das crianças. Concordo, porque os espaços museológicos de todos os tipos têm tudo para instigar: a imaginação e, simultânea e inevitavelmente, a razão. Ali, nesses espaços, abertos ou fechados, o encontro de memórias – passadas, presentes, futuras – ativa a mais humana das nossas capacidades mentais, a de pensar-se e, ao fazê-lo, libera “o organismo de repertórios e reações fixas, permitindo a representação mental de alternativas, imaginação, liberdade”, como explica o neurocientista Oliver Sacks (prefácio de “O Cérebro Executivo”, de E. Goldberg, RJ: Imago Ed., 2002).
O que vocês pensam? Imaginação e razão caminham juntas? Ou são “inimigas”, como algum dia afirmou Niemeyer? Esse debate cabe no tema “museus”?
Escrevi um comentário à postagem de Maria Isabel. Leia mais.
Que delícia, Ione! nada meljor do que provocar o debate - eu adoro! Vários teóricos nos ajudam a compreender que razão e imaginação caminham juntas e que o processo criador - não apenas aquele dos artistas e cientistas, mas de nossas criações cotidianas - está justamente nas possibilidades de combinação dessas "instâncias" (na falta de uma palavra melhor agora). Vygotsky foi um desses teóricos e me é muito estimado.
ResponderExcluirCada vez que defendo 9arduamente!) o estímulo à imaginação nos espaços educativos (em particular nos museus), o faço pq a razão e a lógica vêm, como rainhas absolutistas, regendo esse espaços há anos. Quem sabe se estimularmos a imaginação (sem jamais professar a eleiminação da razão!) podemos engrossar esse caldo?
Bjs felizes com a troca, Bel
Ah, mas eu sabia que vc era fã de uma troca de ideias - o Repensando Museus reflete isso.
ResponderExcluirEstou contigo: espaços educativos precisam estimular a imaginação, com tudo que ela envolve, inclusive o espaço de "nossas criações cotidianas".
Gde abrç,
Ione
Oi, Ione! Retomo alegremente nosso papo em http://repensandomuseus.blogspot.com/2011/04/os-objetos-dos-museus-tem-vida-propria.html
ResponderExcluirDá uma lidinha! Bjs felizes pelo troca-troca, Bel
Niemeyer foi muito feliz e objetivo em sua citação. Razão e imaginação realmente não caminham juntas. Como diz Ângela Linhares no artigo "Arte para cantar e viver" em que ela trata da relação arte-razão. "A arte na escola não visa a desenvolver o dom de alguns mas a artisticidade de todos..."; ou seja a imaginação fica totalmente retida quando relacionada com a razão. Para estimular a imaginação é preciso liberdade e não normas e imposições que são características marcantes da razão.
ResponderExcluirDiego/Juliano/Lucimar
2º Período de Museologia - UFOP
não vejo como razão poderia ser inimiga da imaginação. e isso cabe perfeitamente nos museus, acho muito interessante o estimulo da imaginação nos museus pois se é estimulada a imaginação logo tera estimulo aem pensar, raciocinar questionar e interagir podendo acrecentar algo mais a razão.
ResponderExcluirestimulando a imaginação é possivel desenvolver o pensar, o criar, e incentivando a imaginação não estamos abolindo a razão talvez acrecentando algo mais a ela. pois incentivando a criar/imaginar estamos incentivando a pensar, raciocinar e porque não logicar?! no meu ver razão e imaginação se completam.
ResponderExcluiré possivel acrescentar algo a razão estimulando a imaginação, pois não estaremos estimulando só a imaginar mas também a pensar, raciocinar, logicar, fazendo imaginação e razão a andarem juntas.
ResponderExcluirPois é, Miriam. Também penso como você. E observo no comentário do Anônimo um apreço que também tenho pela arte (especialmente em sua relação com a educação) como forma de desenvolver a imaginação de todos, sem distinção. Só não penso nem a arte, nem a imaginação, como destituídas de lógica - lógicas próprias, é verdade (e diversas da científica), mas ainda assim lógicas.
ResponderExcluirOlá, Maria Isabel. Em breve vou conferir a vida própria dos objetos dos museus no "Repensando". Aguarde. Estou adorando o nosso troca-troca.
ResponderExcluirIone, a partir de seus comentários, se reportando a um texto de Maria Isabel Leite, no blog Repensando Museus, sobre visita ao MON, três pontos me levaram à reflexão:
ResponderExcluir1 - A razão é inimiga da imaginação
Será? Uma frase tão curta e tão racional nos leva a imaginar mil e uma possibilidades de interpretação e assimilação. Conceitualmente estão muito distantes uma da outra, mas, empiricamente, se correlacionam o tempo inteiro. Imaginamos para raciocinar e raciocinamos para imaginar. É fato!
2 -Ver é esquecer o nome da coisa que vemos
Fantástico. Esquecendo o nome da coisa, por extensão esquecemos todas as conveniências e convenções que a coisa carrega em si e assim, conseguimos enxergá-la de forma absolutamente natural, conforme nossas conveniências e convenções.
3 - O que propor após a visitação aos museus de arte?
Acho que não se pode fugir das propostas pedagógicas convencionalmente utilizadas, tanto no MON quanto em outros museus. Porém, esses recursos devem ser aplicados, não somente como ação de entretenimento e sim, para estabelecer conexões com outras áreas do saber, provocando questionamentos, reflexões e despertando o raciocínio crítico-interpretativo. Fazer, Pensar, Observar, Compreender, e novamente, Fazer, agora com capacidade crítica, mudando o fato analisado.
Boas reflexões, Margareth.
ResponderExcluirLi sobre uma palestra do professor e pensador da área de museologia, Ulpiano Bezerra de Menezes, em que ele provocava quem o assistia afirmando exatamente que museu não pode ser apenas entretenimento.
Adoro essas provocações porque elas me fazem frequentar extremos: estou meio que tendendo, no momento, a refletir sobre minhas formas de entretenimento - acho que penso, observo, analiso e faço conexões diversas a partir de me entreter com as coisas.
Você está, penso, certíssima, quando assume a necessidade da provocação pedagógica que estabelece a circularidade dos nossos (a)fazeres: fazer, pensar, observar, compreender, e voltar a fazer...
Abrçs.